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terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Quem disse que só ensino coisas difíceis?




Como professora, não poderia esquecer de deixar uma "coisinha" para vocês ficarem ocupando o tempo enquanto estarei ausente...

Para quem, como eu, achou chata a "tal mudança ortográfica" (compra de novos dicionários, novas gramáticas e mais memorização para mudar o que já estava pronto), depois da crônica feita pela escritora Elida Kronig, veja como ficou mais fácil resolver a parte da memorização.


“Como será daqui pra frente?”


“ Estive vendo as novas regras da ortografia.
Na verdade, já tinha esbarrado com elas
trilhares de vezes, mas apenas hoje que
as danadas receberam uma educada
atenção de minha parte.

Devo confessar que não foi uma ação espontânea.
Que eu me lembre, desde o ano retrasado que
uma amiga me enche o saco para escrever a
respeito. O faço com a esperança de que diminua
o volume de e-mails e torpedos que ela me envia.
Em suma, que as novas regras ortográficas a
mantenham sossegada por um bom tempo.

Cai o trema!
Aliás, não cai... Dá uma tombadinha.
Linguiça e pinguim ficam feios sem ele
mas quantas pessoas conhecemos
que utilizavam o trema a que
eles tinham direito?

Essa espécie de "enfeiação" já vinha sendo
adotada por 98% da população
brasileira. Resumindo,
continua tudo como está.

Alfabeto com 26 letras?
O K e o W são moleza para qualquer internauta,
que convive diariamente com Kb e Web-qualquercoisa.
A terceira nova letra de nosso alfabeto tornou-se
comum com os animes japoneses, que
tem a maioria de seus personagens e
termos começando com y. Esta regra
tiramos de letra.

O hífen é outro que tomba mas não cai.
Aquele tracinho no meio das vogais, provocando
um divórcio entre elas, vai embora. As vogais agora
convivem harmoniosamente na mesma
palavra.

Auto-escola cansou da briga e passou a ser autoescola,
auto-ajuda adotou autoajuda.
Agora, pasmem!

O que era impossível tornou-se realidade.
Contra-indicação, semi-árido e infra-estrutura
viraram amantes, mais inseparáveis que nunca.
Só assinam contraindicação, semiárido e infraestrutura.
Quem será o estraga-prazer a querer afastá-los?

Epa! E estraga-prazer, como fica?
Deixa eu fazer umas pesquisas básicas pela Internet.
Huuummm... Achei!

Essas duas palavrinhas vivem ocupadíssimas,
cada uma com suas próprias obrigações.
Explicam que a sociedade entre elas não passa
de uma simples parceria. Nem quiseram se
prolongar no assunto. Para deixar isso bem
claro, vão manter o traço.

Na contra-mão, chega um
paraquedista
trazendo um paralama, um
parachoque e um parabrisa - todos sem tracinho.
Joguei tudo no porta-malas pra vender no
ferro-velho. O paraquedista com cara de
pão de mel ficou nervoso. Só acalmou quando
o banhei com água-de-colônia numa
banheira de hidromassagem.

Então os nomes compostos não usam mais hífen?
Não é bem assim.
Os passarinhos continuam com seus nomes:
bem-te-vi, beija-flor. As flores também
permanecem como estão: mal-me-quer.
Por se achar a tal, a couve-flor recusou-se a
retirar o tracinho e a delicada erva-doce
nem está sabendo do que acontece
no mundo do idioma português e vai
continuar adotando o tracinho.

As cores apelaram com um papo estranho sobre
estarem sofrendo discriminações sexuais e
conseguiram na justiça, o direito de gozarem
com o tracinho. Ficou tudo rosa-choque,
vermelho-acobreado, lilás-médio...

As donas de casa quando souberam da vitória da
comunidade GLS, criaram redes de novenas
funcionando por 24hs, para que a feira não se
unisse sem cerimônia aos dias da semana. Foram atendidas
pelo próprio arcanjo Gabriel que fez uma aparição
numa das reuniões, dando ordens ao estilo Tropa de Elite:
- Deixe o traço!
Deu certo. As irmãs segunda-feira, terça-feira e as demais,
mantiveram o hífen.

Os médicos e militares fizeram um lobby, gastaram
uma nota preta pra manter o tracinho. Alegaram que
sairia mais caro mudar os receituários e refazer as fardas:
médico-cirurgião, tenente-coronel, capitão-do-mar.
Uma pequena pausa para a cultura, ocasionada pelo
trauma de ler muitas pérolas do Enem e
Vestibular. Só por precaução...

Almirante Barroso não tem tracinho. Assim era chamado
Francisco Manuel Barroso da Silva. Sim, o cara era
militar da Marinha Imperial. Foi ele quem conduziu a
Armada Brasileira à vitória na Batalha do Riachuelo,
durante a Guerra da Tríplice Aliança.
No centro do Rio de Janeiro há uma avenida com seu nome
(Av. Almirante Barroso). Na praia do Flamengo, há um
monumento, obra do escultor Correia Lima, em cuja
base se encontram os seus restos mortais. Fim da pausa!

Acho que algumas regras pra este tracinho, até que simpático,
foram criadas por algum carioca apaixonado. Será que
Thiago Velloso e André Delacerda tiveram alguma participação
nas novas regras?

O R no início das palavras vira RR na boca do carioca.
Não pronunciamos R (como em papiro, aresta e arara),
pronunciamos RR (como em ferro, arraso e arremate).
Falamos rroldana e não roldana, rrodopio e não rodopio,
rrebola e não rebola.
Pois bem, numa das tombada do hífen, o R dobra e
deixa algumas palavras com jeito carioca de ser:
autorretrato, antirreligioso, suprarrenal. Será fácil lembrar
desta regra. Se a palavra antes do tracinho (nem vou falar em
prefixo) terminar com vogal e a palavra seguinte começar com
R é só lembrar dos simpáticos e adoráveis cariocas.

Mais uma coisinha: a regra também vale para o S. Fico até
sem graça de comentar isso, pois todos sabemos que o S é
um invejoso que gosta de imitar o R em tudo. Ante-sala vira
antessala, extra-seco vira extrasseco e por aí vai...
Quem segurou mesmo o hífen, sem deixá-lo cair, foram os
sufixos terminados em R, que acompanham outra palavra
iniciada com R, como em inter-regional e hiper-realista.
Estes tracinhos continuarão a infernizar os cariocas.
O pré-natal esteve tão feliz, rindo o tempo todo
com o pós-parto de uma camela pré-histórica que
ninguém teve coragem de tocar no tracinho deles.
Já o pró - um chato por natureza, foi completamente
ignorado. Só assim manteve o tracinho:
pró-labore, pró-desmatamento.

A vogal e o h não chegaram a nenhum acordo, mesmo com
anos de terapia. Permanecem de cara virada um pro outro:
anti-higiênico, anti-herói, anti-horário. Estou
começando a achar que as vogais são semi-hostis
com as consoantes...
O interessante é que as vogais quando estão próximas
umas das outras, não tem essa de arquiinimigas. Fizeram
lipo juntas e conquistaram uma silhueta antiinflacionária de
microorganismo. Sumiram todos os tracinhos, notaram?
Vogal-vogal, com as novas regras ficam magrinhas:
microondas, antiibérico, antiinflamatório, extraescolar...
Uma inovação interessante:
- Podem esquecer o mixto , ele foi sumariamente
despedido. Puseram o misto no lugar dele.

Fiquei bolada com essa exceção: o prefixo co não usa mais
hífen. Seguiu os exemplos de cooperação e
coordenado, que sempre estiveram juntas.
Não estou me lembrando no momento, de
nenhuma palavra que use co com tracinho.
Será que sempre escrevi errado?
Quem diria que o créu suplantaria a ideia!? Teremos que
nos acostumar com as ideias heroicas sem o acento agudo.
Rasparam também o acento da pobre coitada da jiboia.
O acento do créu continua porque tem o U logo depois.
Pelo menos a assembleia perdeu alguma coisa...
Resta o consolo em saber que continuamos vivendo
tendo um belíssimo céu como chapéu.”


Crônica “Como será daqui pra frente?”
De: Elida Kronig


Aplicada com sucesso em vários colégios, tem sido um valioso auxiliar nas palestras e seminários de atualização da Língua Portuguesa.

Beijos...
Lola

23 comentários:

Anny disse...

Lola:
Vou me acostumando aos poucos e usando os corretores que exitem por ai. Pois se nem meus livros, estão com a nova gramática, este é um assunto que estou deixando correr. Um dia ele se cansa. Vai chegar a algum lugar?
Vamos ver.
Beijos. Anny

Tânia Defensora disse...

Oi Lola!
Que "estória" é essa de Angeline Jolie?

Adorei o post, muito legal mesmo.

Beijo grande, saudades.

Mimirabolante disse...

A sua idéia foi ótima e ficou muito bom o resultado....Parabéns !!!!

Jens disse...

Não, Lola, não! Me recuso a mudar a escrita. Pô, levei um tempão pra aprender a escrever direito e, agora que aprendi, mudam tudo. Assim não dá! Em protesto, vou resistir às alterações até o último dia do prazo fatal em 2012.
Um beijo.

Carla Beatriz disse...

Lola,

Adorei o texto da Elida Kronig!

Beijos mil

Cris disse...

Adorei, lindinha...

Estou imprimindo-ooooo

Beijão e saudades.

Unknown disse...

oi miga .tambem adorei a cronica bjs !!!ps:.p mim naum vai fz muita diferença naum ,ainda mais na net !!eu escrevo tudo errado mesmo kkkkkkk!ti amuuuuuuuu!!!!!

Anônimo disse...

Grande Lola! Muito legal esse texto.
Só sei que é um saco essas mudanças ortográficas (xi! será que ORTOGRÁFICAS é sem acento agora? hehehe...).
Tinha que ser como diz aquela porcaria de música (eu disse "música"? argh!)... "cada um no seu quadrado".
Beijos!
Mark

Lola disse...

Só poderia ter vindo de você mesmo, Mark, rss...

Saudades, amigo...
Volte sempre!!!

Lola disse...

Shay, você eu continuo chamando a atenção, mesmo sabendo que não dará em nada,rsss...

Te amo, muito...

Lola disse...

Oi, Anny,

É assim mesmo, vamos aos poucos, até nos acostumarmos. Quanto a chegar a algum lugar, nem eu sei... :)

Volte sempre!
Beijão.

Lola disse...

Oi, Tânia,


Que bom que gostou da postagem, sua opinião conta, muito...

Já sabe a resposta. Agora, será "minha Jolie",rsss...

Beijo em todos!

PS: Também estou com saudades de ver todos comentando juntos.

Lola disse...

Oi, Mimi,

Não teria feito nada sem sua ajuda, obrigada!

Beijão e sorte na casa!

Lola disse...

Jens,

Já disse que adoro seu jeito de comentar?!

Vamos dizer que você falou exatamente o que eu falei aqui em casa, quando soube desse assunto. Só que o seu jeitinho de falar é o máximo!!! Você me fez rir...

Concordo plenamente com você!

Beijão.

Lola disse...

Olá, Carla,

Está sumida, vê se aparece mais!
Quanto ao texto, também gostei, achei que desta forma facilitou bastante a aprendizagem das crianças. (e nossa também :))

Beijãããão.

Lola disse...

Cris, minha linda,

Que bom que gostou, mais uma da Lola em suas aulas? :)

Beijooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooos.................... (com saudades)

jorginho da hora disse...

Muito bem humorado esse jeito que vc arrumou de falar desse assunto, neulinha. Resuminndo, é isso aí mesmo: Tudo como dantes no quartel de abrantes, ou seja,a reforma retirou da ortografia quase tudo que na prática ninquem usava ou, no caso do k, w, y, já usava.

Mais mil beijos!

Geovana disse...

Gostei da aula de gramática. O mais difícil de engolir é hifem, mas eu já não sabia usar antes, então fica o dito pelo não dito.

Beijo.

Lola disse...

Olá, Jorginho,

O engraçado é que no meu nome tem Abrantes,rsss...
Também achei legal a forma que essa crônica fez ficar mais fácil, não só para crianças, mas para nós adultos, aprender as novas regras da ortografia.

Beijãoooo.

Lola disse...

Oi, Geovana,

O engraçado é que não é só você que pensa dessa maneira, a maioria das pessoas me falam que não fará muita diferença, pois não sabiam antes da nova regra, então, se aprenderem algo dessa vez já será vantagem,rsss...

Beijão...

PS: Estava com saudades de você!

Professora Lara disse...

Amei a crônica, vou levar para os meus alunos!
Abraços,

Lola disse...

Oi, Lara,

Que bom que gostou!
Faça bom uso!!!

Abraços e volte sempre!

Robson Fernando de Souza disse...

Olá Lola!

Notei que a autora do artigo errou em um detalhe:

"O interessante é que as vogais quando estão próximas
umas das outras, não tem essa de arquiinimigas. Fizeram
lipo juntas e conquistaram uma silhueta antiinflacionária de
microorganismo. Sumiram todos os tracinhos, notaram?
Vogal-vogal, com as novas regras ficam magrinhas:
microondas, antiibérico, antiinflamatório, extraescolar...
Uma inovação interessante"

Vogais iguais são sim separadas por hífen: micro-ondas, micro-organismo, co-ordenação, anti-inflamatório...

Aproveito pra convidar você a visitar um blog de conscientização bastante convidativo à reflexão:
http://conscienciaefervescente.blogspot.com/

Bjos